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domingo, 30 de março de 2014

VIVER DE LUZ?

Poeiras de estrelas comem a luz do sol

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Por Sônia T. Felipe

Já ouvi muitas vezes que nossos organismos aqui no planeta Terra são resultado de partículas estelares. Poeira de estrelas. Sei que sem nossa estrela maior, o sol, não teríamos como viver aqui. O gelo nos destruiria. Frutos do sol que somos, mantemos o calor externo do nosso corpo à custa do calor irradiado por ele. E como mantemos o calor no interior de nossas células? À custa da luz irradiada pelo sol. Como assim?
Estudei algo sobre a fotossíntese, com uma das maiores autoridades mundiais em plantas. Um grupo específico de genes, nas plantas, distingue quando o organismo está no escuro e quando está à luz. E, conforme o declara o cientista que o descreve, Daniel Chamovitz, em seu livro, What a Plant Knows?, esse mesmo grupo de genes está presente numa parte do DNA, tanto do animal humano quanto no de outras espécies. Vou chegar aonde quero. Não desista.

Para as plantas, luz é comida, escreve Chamovitz. “Elas usam a luz para transformar a água e os dióxidos de carbono em açúcares, que, por sua vez, proveem alimento para e para os outros animais.” Eu poderia escrever horas sobre isso. Tenho leitoras e leitores com pressa. Vamos às conclusões?

Se somos, ou não, poeira de estrelas, isso eu não sei. Que não vivemos a não ser por conta da luz, disso não duvido. Que precisamos transformar luz em nosso alimento, disso estou certa. Mas se nem todos nós podemos sintetizar, eficientemente, com a ajuda da luz do sol, a água e os dióxidos de carbono, em açúcar, nossa energia, o que fazer?
Em vez de comer cadáveres, que nada sintetizam, pois também quando vivos aqueles animais pouco sabiam de fotossíntese, a gente come a luz e a energia oferecidas pelo sol e sintetizadas pelas plantas.

Veganos poupam os animais. Comemos apenas o que teve aquela interação direta com a estrela que é fonte da vida no planeta terra, que comanda tudo por aqui. Comemos o que as plantas produzem em reação à luz do sol e das outras estrelas que só são visíveis à noite, que incide sobre elas.

Todos os aminoácidos de que necessitamos para formar, substituir e manter vivos e saudáveis os tecidos e células do nosso corpo, as famosas proteínas, obtemos de alimentos vegetais. Comemos a luz do sol, não na forma de ondas que variam de 0.0000004 a 0.0000007 metros (azul fica do lado menor, vermelho é a mais longa e o verde, o amarelo e o laranja ali no meio desse tamanho), mas materializada, incorporada nesses tons pelo trabalho das plantas. Comemos os frutos, as frutas, os grãos, as sementes, as folhas e os tubérculos, em variados tons.

Como saber o que comer para não errar nas quantidades?

Os médicos do Comitê dos Médicos por uma Medicina Responsável (T. Colin Campbell, John McDougall, Neal Barnard) dizem para não nos preocuparmos com quantidades, a menos que alguma doença já tenha se instalado em nossos tecidos, órgãos ou funções, diabetes, por exemplo. Basta comer de forma variada e colorida.

Tenho um método para “variar” e “colorir” minha dieta.

Primeiro, vario o espaço de onde obtenho o alimento: do alto das árvores (frutas), do espaço intermediário entre as árvores e o solo, frutos, o que dá pendurado, tipo chuchu, berinjela, tomate, abóbora, pimentão, leguminosas (todos os tipos de feijão, grão-de-bico, ervilha, lentilha e amendoim), oleaginosas (coco, amêndoas, castanhas, nozes, abacate), o que dá em espigas, sementes, grãos e cereais, folhas verde e crucíferas (milho, cevada, arroz, aveia, couve-flor, brócolis), sementes (de girassol, de gergelim, de linhaça) e o que nasce diretamente do solo (mandioca, batatas de todo tipo, cenoura, beterraba, nabo, rabanete).

E ainda tem gente que pergunta, quando dizemos que não comemos nada de animais: mas o que tu comes, então?

Antes eu consumia o que vinha das águas dos oceanos: algas. Mas depois que li que a radioatividade de Fukushima já deu volta ao planeta, desisti das algas.

Em segundo lugar, olho o colorido do que ponho no prato, procurando pelo menos cinco tons: verde, amarelo, vermelho, laranja, roxo, branco. Evito pratos em que tudo tem o mesmo tom, tipo: batata, arroz, feijão branco, inhame, mandioca. E evito junk Food, porque tudo é amarronzado.
Se queremos ser luz, como podemos pensar que, nos alimentando de cadáveres ou de secreções tiradas dos corpos atormentados dos animais (ovos, leite), vamos irradiar ondas luminosas, sem oferecer ao nosso corpo, filho da luz solar, fonte de toda irradiação, a matéria que representa as medidas das ondas de luz emitidas pelo sol e captadas por quem melhor do que nós está habilitado para apreender essas ondas em suas diferentes dimensões, as plantas, com sua pós-graduação em fotossíntese?

Sobre a batida questão “da dor das plantas” preciso escrever outro dia, porque este texto aqui já ficou muito comprido para a paciência de muitas leitoras da era twitter de, no máximo, 140 caracteres. Escrevi umas 839 palavras em mais de quatro mil caracteres. Tem gente ofegando para ler essas últimas linhas...rs. Por hora, basta!


perfil soniaSônia T. Felipe | felipe@cfh.ufsc.br
Sônia T. Felipe, doutora em Teoria Política e Filosofia Moral pela Universidade de Konstanz, Alemanha (1991), fundadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Violência (UFSC, 1993); voluntária do Centro de Direitos Humanos da Grande Florianópolis (1998-2001); pós-doutorado em Bioética - Ética Animal - Univ. de Lisboa (2001-2002). Autora dos livros, Por uma questão de princípios: alcance e limites da ética de Peter Singer em defesa dos animais (Boiteux, 2003); Ética e experimentação animal: fundamentos abolicionistas (Edufsc, 2006); Galactolatria: mau deleite (Ecoânima, 2012); Passaporte para o Mundo dos Leites Veganos (Ecoânima, 2012); Colaboradora nas coletâneas, Direito à reprodução e à sexualidade: uma questão de ética e justiça (Lumen & Juris, 2010); Visão abolicionista: Ética e Direitos Animais (ANDA, 2010); A dignidade da vida e os direitos fundamentais para além dos humanos (Fórum, 2008); Instrumento animal (Canal 6, 2008); O utilitarismo em foco (Edufsc, 2008); Éticas e políticas ambientais (Lisboa, 2004); Tendências da ética contemporânea (Vozes, 2000).
Cofundadora da Sociedade Vegana (no Brasil); colunista da ANDA (Questão de Ética) www.anda.jor.br; publica no Olhar Animal (www.pensataanimal.net); Editou os volumes temáticos da Revista ETHIC@,www.cfh.ufsc.br/ethic@ (Special Issues) dedicados à ética animal, à ética ambiental, às éticas biocêntricas e à comunidade moral. Coordena o projeto: Ecoanimalismo feminista, contribuições para a superação da discriminação e violência (UFSC, 2008-2014). Foi professora, pesquisadora e orientadora do Programa Interdisciplinar de Doutorado em Ciências Humanas e do Curso de Pós-graduação em Filosofia (UFSC, 1979-2008). É terapeuta Ayurvédica, direcionando seus estudos para a dieta vegana.
Link para C. Lattes:  http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4781199P4
Olhar Animal - www.olharanimal.net

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