Acabando com a indústria de carne de cachorro na Coreia do Sul: Uma jornada de um milhão de lágrimas
Por Lola Webber / Tradução de Alice Wehrle Gomide
Foi pela primeira vez, seis anos atrás, que eu visitei 
Moran Market, o maior mercado de carne de cachorro da Coreia do Sul. 
Sendo alguém que sempre amou cães e nunca questionou o fato de que eles 
são de verdade “meus” melhores amigos, se não do “Homem”, vendo cães 
esperando por seu momento do abate foi horrivelmente surreal e doloroso 
de testemunhar. Aquele momento quando um comerciante abriu a gaiola e 
jogou um laço no pescoço do cachorro, arrastando-o para a morte está 
gravado na minha mente. Eu fechei meus olhos, chorando silenciosamente, e
 queria mais do que qualquer coisa que eu pudesse tirar a dor do 
cachorro. Tendo a esperança de que, de alguma forma, cada cão soubesse 
que eu estava do lado deles e que eu me importava. Que eu podia vê-los e
 que sua dor me machucava tão profundamente. Eu queria poder dizer a 
eles que eles importavam para mim e que testemunhar seu sofrimento 
mudaria minha vida para sempre – que seu sofrimento não seria em vão.
Naquela manhã fria em Seul eu fiz uma promessa que mudou 
minha vida. Eu prometi que iria continuar lutando até que os cães não 
valessem mais somente pela carne em seus corpos. Seus lindos corpos 
quebrados já tinham sofrido tanto antes mesmo de chegarem àquele mercado
 sem coração.
Cães à venda do lado de fora de uma “loja de saúde” em um dos mercados de carne de cachorro de Seul.
Fotos: Change for Animals Foundation
A maioria dos cães usados para abastecer os mercados de 
carne, restaurantes, matadouros e “lojas de saúde” da Coreia do Sul vem 
das fazendas de cachorros. Existem milhares dessas fazendas por toda a 
Coreia do Sul, variando desde pequenas instalações de fundo de quintal, 
com um pequeno número de cães, até enormes instalações contendo milhares
 de cães. Apesar do tamanho da fazenda, o sofrimento dos animais é o 
mesmo. Através de suas curtas vidas não há um descanso, nenhum momento 
de felicidade ou ausência de medo. É uma existência lamentável com um 
final brutal.
Uma típica fazenda de cães na Coreia do Sul.

Eu também me lembro de tudo sobre a primeira vez que 
visitei uma fazenda de cães. Os cheiros, sons e a visão dos rostos 
espiando através das barras de suas jaulas eram esmagadores. A tristeza 
que eu senti foi sufocante. Eu saí de perto e chorei. A sensação de 
desesperança, combinada com a necessidade de fazer algo AGORA, foi 
esmagadora. Sair de lá e dar as costas para o sofrimento e a miséria não
 caia bem no meu coração e na minha alma, e isso me encheu com uma 
vergonha que iria me destruir ou fazer com que eu lutasse mais duro.
Então, quando o fracasso não é uma opção, você luta. Você 
luta pelas vidas desses animais como se estivesse lutando por sua 
própria vida. A única coisa que você sabe com certeza é que desistir não
 é uma opção e que você precisa agir agora, porque amanhã será muito 
tarde para muitos cães...
A CFAF – Change For Animals Foundation foi fundada para que
 sempre houvesse uma organização que lutaria pelo fim do sofrimento dos 
cães na Coreia do Sul. Nós continuaremos não importa quão difícil fique,
 e não importa quão impossível ou distante nossa vitória possa parecer. É
 uma campanha muito dura – uma que requer tenacidade para mudar ambos os
 status legal e social dos cães, para que todos estes sejam vistos 
igualmente nos corações das pessoas e pelas leis designadas para 
protegê-los.
Um cão espiando de dentro de sua jaula em uma fazenda de cães perto de Seul.

Foram anos de pesquisa e investigações para conseguir um 
completo entendimento da indústria da carne de cães na Ásia; para 
determinar as motivações, as razões, e a mudança na cultura, construindo
 relacionamentos de valor inestimáveis e ganhar a confiança de pessoas 
dentro dessa indústria. Por todo esse tempo, a dor de ver esses cães e 
testemunhar seu sofrimento horrível foi imensurável.
Mas, ao mesmo tempo, nós tivemos tantas vitórias. E cada 
uma delas nos deu força para colocar um curativo em nossos corações 
quebrados e seguir em frente.
Nós nos apegamos a essas vitórias e nos lembramos do imenso
 significado deste movimento para ganhar a proteção e inspirar a 
compaixão pelos animais na Coreia do Sul e além...
O lançamento da campanha “Pare com isso!” contra a carne de cães pela CFAF, CARE e Animal Guardians em 2013.

O apoio de nosso pequeno, mas muito determinado exército de
 incríveis apoiadores online de todo o mundo, nos permite continuar a 
criar esta mudança duradoura e positiva.
A demanda pela carne de cães na Coreia do Sul está 
diminuindo, particularmente entre as gerações mais jovens onde a posse 
de animais de estimação está crescendo exponencialmente. Como um exemplo
 maravilhoso, o mais antigo restaurante de carne de cachorro do país 
fechou em 2014, após 33 anos de operação, já que viram os clientes se 
afastarem de comer algo que agora é mundialmente visto como animal de 
companhia.
Graças aos grupos locais e indivíduos inspiradores, o 
movimento pelos direitos dos animais é a campanha civil que mais 
rapidamente cresce na Coreia do Sul, crescendo em força e número a cada 
ano que passa.
Nós também estamos vendo uma mudança incrível naqueles 
envolvidos na indústria – comerciantes, fazendeiros e donos de 
restaurantes – que estão considerando seu modo de vida e mudando suas 
opiniões. Eu conheci muitos comerciantes e fazendeiros de cães, e nenhum
 deles mostrou orgulho pelo seu trabalho, cada um deles expressando o 
remorso pelos cães que sofreram em suas mãos. Eles me dizem que estão 
prontos para deixar esta indústria, mas precisam de ajuda para isso.
A CFAF sabe que a mudança será mais efetiva quando vier de 
dentro, então nós estamos comprometidos a trabalhar com aqueles na 
indústria que querem acabar com o comércio de carne de cães. Ao mostrar 
aos trabalhadores dessa indústria que há uma forma de mudar e ao unir 
nossos pedidos ao governo para apoiar o fim desse comércio, assim como 
apresentando alternativas sustentáveis e viáveis, nós podemos e iremos 
acabar com a indústria de carne de cães. Nós sempre trabalhamos em 
parceria com indivíduos e grupos locais e internacionais de proteção 
animal, porque nós acreditamos que a mudança mais rápida virá de um 
movimento unificado. E parte de nossa atual atividade essencial envolve 
fazendeiros que estão prontos para fechar suas fazendas, e ajudando os 
comerciantes que querem deixar a indústria e mudar para um comércio mais
 humano.
E nossa abordagem está funcionando!
As fazendas de cães estão sendo fechadas e centenas de 
animais já foram salvos de um destino cruel – eles foram resgatados e 
começaram novas vidas de liberdade, amor e compaixão.
Gillian foi resgatada de uma fazenda de carne de cães em julho de 2015.

Pelos últimos seis anos, eu visitei a Coreia do Sul várias 
vezes. Eu sempre vou lá com um coração pesado porque eu sei que irá 
machucar testemunhar a dor desses animais. Mas ir embora machuca ainda 
mais. Deixar tanto sofrimento para trás que eu não pude consertar 
consome meu ser. Mas a CFAF sempre irá voltar. E nós sempre iremos lutar
 para acabar com toda a indústria, enquanto salvarmos o máximo de 
animais que pudermos no caminho, porque cada um desses indivíduos neste 
mundo é importante.
O cachorro embaixador da CFAF, Django, é de uma 
raça considerada como ‘cachorro de carne’ na Coreia do Sul. Ele foi 
resgatado de uma fazenda de cães em junho de 2013 e agora vive com Lola e
 sua família.

Pelo fato de que esta história tenha começado no Moran 
Market, é aqui que ela será terminada. Mas eu terminarei com uma 
história de esperança... Com a história da “Nun” (significa “neve” em 
coreano):
Era uma tarde fria em janeiro alguns anos atrás no Moran 
Market. Estava nevando e já estava escuro. Nós estávamos indo embora 
quando eu vi uma cachorra correndo pelo estacionamento na frente do 
mercado, cerca de somente 100 metros dos comerciantes de carne de 
cachorro. Ela estava aterrorizada e, conforme eu me aproximei dela, ela 
se escondeu embaixo de um carro. Eu implorei para que ela saísse e 
prometi que ela ficaria segura se ela viesse até mim... Eu rastejei 
embaixo do carro para chegar até ela e estiquei minha mão. Ela a lambeu.
 Eu a convenci a sair e nós a colocamos no carro e fomos embora... Nun 
(ou “Nunnie” como nós a chamamos depois) era uma dessas raças 
consideradas como “cachorro de carne” na Coreia do Sul. Ela 
provavelmente de alguma forma conseguiu fugir dos comerciantes. 
Simplesmente assim, dentro de nosso carro e segura em meus braços, a 
indústria de carne de cachorro acabou para ela. Eu lembro que pensei 
enquanto a gente ia embora, “como que alguém tão linda acabou em um 
lugar tão horrível”. Nunnie agora está vivendo nos EUA e é adorada, 
sendo tratada com a compaixão e o amor que ela merece... e que todos os 
animais merecem. Para mim, ela sempre será um milagre e um símbolo de 
esperança.
Nunnie momentos após ser salva do Moran Market.

Nunnie aproveitando sua nova vida, livre do medo.

As pessoas frequentemente me perguntam se eu realmente acredito que um dia a indústria de carne de cachorro acabará na Coreia do Sul. Para mim isso sempre parece uma pergunta estranha porque, para nós da Change For Animals Foundation, não é uma questão de “se”, mas “quando”. E eu sempre respondo com um resoluto “SIM!”.
Fonte: One Green Planet
Nota do Olhar Animal: Uma 
ação focada na não exploração para consumo de uma espécie animal 
específica, como o caso do cão, parece sempre levar em consideração o 
impacto que o consumo destes animais tem para as pessoas (emocional, no 
caso) e não o impacto que tem para os próprios animais. Não fosse assim,
 porque distingui-los entre tantas outras vítimas do apetite humano, 
como os porcos, as vacas e as aves? No fim, parece que o que está sendo 
defendido em uma ação deste tipo é o interesse humano em não ficar 
consternado com a situação (o que ocorre para grande parte das pessoas 
no caso dos cães e não no de outros animais) e não o direito animal de 
não ser morto, de não ser maltratado e abusado.

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