A
Verdadeira face da Experimentação
Animal
Autor: Sérgio Greif e Thales Tréz
Sobre: Mostra os " porões" do uso
científico de animais. O livro, que foi
produzido pela Sociedade Educacional Fala Bicho,
conta, também, com depoimentos de pessoas de
grande notoriedade, entre elas o Dr. Ivo Pitanguy.
Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação
Autor: Sérgio Greif
Sobre: Mostra alternativas que
substituem vivissecção.
Libertação Animal
Autor: Peter Singer
Sobre: Considerado o livro mais
importante da história da ética animal. Desde sua
edição original (1975), deu início a uma revolução
de idéias, atitudes, ações e movimentos em prol da
consideração moral do bem-estar de animais
não-humanos, fazendo uma enorme diferença: ajudou
a diminuir o sofrimento e mudar o destino de
milhares de criaturas. Libertação Animal
desenvolve um argumento mostrando que a crueldade
com os animais e a dor que lhes infligimos não
podem ser eticamente justificadas, o que se
constitui numa boa razão para tentarmos reverter
as práticas que as perpetuam.
Redação SRZD | Ciência | 16/08/08
Utilizar animais em pesquisas
sobre a dor tem "valor limitado" e
deveria ser substituído por novas
tecnologias, afirmam médicos de
toda a Inglaterra. Os testes
conseguem simular apenas alguns
aspectos da dor e são muito
simplistas. Com novas técnicas,
mais estudos poderiam ser feitos
em humanos.
Existem apenas alguns poucos tratamentos eficazes para dor
crônica, assim como aqueles oferecidos a pessoas com artrite e
fibromialgia, contam os pesquisadores de Londres, Manchester,
Liverpool e Oxford. Os experimentos são feitos com animais
anestesiados e conscientes.
Questões éticas são levantadas a respeito do uso de animais.
Em um workshop organizado para arrecadar fundos e promover
alternativas para tais experimentos, especialistas disseram
que scanners cerebrais modernos e potentes podem substituir a
técnica polêmica.
Voluntários saudáveis e pacientes com dor seriam necessários
nos estudos, nos quais cientistas monitorariam os efeitos de
anestésicos no cérebro através de MRI, ou outros scanners.
Outra pesquisa feita em laboratório, com células e tecidos
humanos também poderia ajudar na investigação sobre a dor.
O Globo Online -
Ciência - 15/02/08
BBC
Cientistas
americanos estão dando o primeiro passo para testar
substâncias químicas em células criadas em laboratório, uma
técnica que poderia reduzir o uso de animais em testes desse
tipo, segundo um artigo publicado na revista Science e
discutido no encontro anual da Associação Americana para o
Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), em Boston.
Duas agências do
governo americano estão estudando a possibilidade de usar
robôs de alta-velocidade para a realização desses testes.
O objetivo a
longo prazo é reduzir os custos, o tempo e o número de animais
usados em testes de laboratórios para analisar os possíveis
efeitos danosos de pesticidas e produtos de limpeza, entre
outras substâncias, sobre os humanos.
A técnica se
segue aos pedidos para que cientistas usem menos animais nas
pesquisas.
Os robôs teriam
capacidade para realizar milhares de testes por dia,
identificando substâncias químicas com efeitos tóxicos.
Mais rápido e
barato
Falando em um
link de vídeo ao vivo, Francis Collins, diretor da Pesquisa
Nacional do Genoma Humano do Instituto Nacional de Saúde (NIH,
na sigla em inglês), afirma que os testes com robôs poderiam
representar um método mais rápido e barato de testar as
substâncias.
"Historicamente a
toxicidade sempre foi determinada com a injeção das
substâncias em animais de laboratório, observando se eles
ficam doentes, e depois analisando seus tecidos em um
microscópio", explicou ele.
"Apesar de este
método trazer informações importantes, ele de ser caro, leva
tempo, usa um grande número de animais e nem sempre prevê se
as substâncias serão danosas aos humanos."
Programa de
cinco anos
Essa pesquisa -
uma colaboração do NIH com a Agência de Proteção Ambiental (EPA,
na sigla em inglês) - tem potencial para revolucionar o modo
como substâncias químicas tóxicas são identificadas.
"No fundo, o que
a gente quer saber é: Esse composto prejudica as células?",
disse Collins.
"Então, será que
poderíamos, em vez de observar um animal inteiro em nossa
primeira linha de análise, observar células individuais de
diferentes organismos, ou diferentes animais, com diferentes
concentrações do composto?"
O programa de
pesquisa de cinco anos vai usar robôs de análises
automatizadas de alta velocidade desenvolvidos durante o
projeto do genoma humano.
Isso vai permitir
que eles completem 10 mil análises em células e moléculas por
dia, em comparação com 10 a 100 estudos por ano em cobaias.
Longo prazo
Amostras das
substâncias químicas serão adicionadas a células humanas ou
animais, crescidas em laboratório.
Essa mistura será
estudada para encontrar sinais de toxicidade, usando uma
variedade de testes genéticos e bioquímicos.
O objetivo a
longo prazo é desenvolver métodos de testes que não dependam
de animais e sejam rigorosos o suficiente para ser aprovados
pelos reguladores.
Atualmente, estão
sendo estudados os efeitos toxicológicos de mais de 2 mil
compostos químicos em células humanas ou em roedores.
Mas os cientistas
afirmam que ainda há muitos anos pela frente até que os testes
sem o envolvimento de animais se tornem rotina, mesmo que a
pesquisa tenha um resultado positivo.
Desenvolvimento de novos fármacos: Biochip evita testes em
animais
Farmácia.com - 27/12/07 -
www.farmacia.com.pt/index.php?name=News&file=article&sid=5284
Uma equipa de investigadores norte-americanos desenvolveu uma
tecnologia capaz de reduzir drasticamente a necessidade de
serem utilizados animais durante os estudos de segurança para
o desenvolvimento de novos fármacos. O novo biochip vai também
garantir a obtenção de resultados mais rigorosos.
Por norma, as experiências relativas à toxicidade das
substâncias em estudo baseiam-se em testes realizados em
animais que permitem prever se um determinado candidato a
fármaco é ou não tóxico. Porém, estes procedimentos são
dispendiosos e nem sempre reflectem com precisão a reacção dos
seres humanos às substâncias testadas.
Ao longo dos tempos, têm vindo a crescer os esforços para
desenvolver estratégias que substituam ou minimizem o número
de testes em animais que necessitam de ser realizados durante
os ensaios pré-clínicos. Agora, uma investigação conjunta do
Rensselaer Polytechnic Institute, da Universidade da
Califórnia, em Berkeley, e da Solidus Bioscience, revela
resultados animadores.
“Observámos os problemas com que as empresas se deparam e
apercebemo-nos de que precisávamos de desenvolver algo que
tivesse custos reduzidos, uma taxa de aceitação elevada, que
fosse facilmente automatizado e não envolvesse animais”,
explicou Jonathan Dordick , um dos principais responsáveis
pela investigação, professor do Rensselaer Polytechnic
Institute e co-fundador da Solidus Biosciences.
O Datachip engloba mais de 1.000 culturas de tecidos
tridimensionais que reflectem a forma como as células se
organizam no organismo. O objectivo é fornecer aos
investigadores um sistema de projecção rápido e que permita
prever o potencial de toxicidade de um candidato a fármaco em
vários órgãos do corpo humano.
Desenvolvemos o
MetaChip e o DataChip para lidar com dois dos assuntos mais
importantes que precisam de ser avaliados quando se analisa a
toxicidade de uma substância – o efeitos nas diferentes
células do nosso corpo e a forma como a toxicidade se altera
quando a substância é metabolizada pelo organismo”, afirmou o
responsável.
A capacidade de um indivíduo para metabolizar uma substância é
determinada pela sua composição genética e pela quantidade de
medicamentos que metabolizam enzimas, determinando o quão
tóxico pode ser um composto para eles. Ao modificar a
proporção das enzimas no MetaChip, os cientistas conseguiram
desenvolver chips personalizados que prevêem a resposta de um
paciente a uma determinada substância. “Ainda estamos longe da
medicina personalizada, mas o MetaChip caminha nessa direcção”,
salientou Dordick.
Marta Bilro
Omissão do
prefeito permitiu que vereadores promulgassem lei que impede
uso de animais em experimentos na cidade
Medida afeta pesquisas sobre novas drogas feitas na UFSC;
cientistas alegam que há incostitucionalidade e pedem regras
federais
GIOVANA GIRARDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Por uma omissão do prefeito Dário Berger (PMDB), Florianópolis
acaba de ser tornar a primeira cidade brasileira a proibir o
uso de animais em pesquisas científicas. Na sexta-feira, a
Câmara Municipal promulgou silenciosamente o projeto de lei
que regulamenta o assunto após ter expirado o prazo de
apreciação de Berger.
Pela lei orgânica da cidade, o prefeito tem 15 dias úteis para
vetar ou sancionar um projeto aprovado pela Câmara. Se ele não
se manifesta, entende-se que ele está de acordo.
Segundo o secretário de Comunicação da cidade, Paulo Roberto
Arenhart, ao receber o projeto, Berger considerou que não
tinha "juízo de valor" sobre a matéria e pediu o parecer do
secretário de Saúde e da Procuradoria Geral do Município.
"Eles não chegaram a tempo e perdemos o prazo. Aconteceu."
O projeto do vereador Deglaber Goulart (PMDB), líder do
governo na Câmara, fora aprovado na Casa em 6 de novembro e
encaminhado no dia seguinte à prefeitura. Procurado pela Folha
na sexta, Goulart omitira a promulgação. Ontem, só disse: "O
prefeito não vetou porque a lei é importante".
A lei passa a valer assim que for publicada no Diário Oficial,
o que está previsto para ocorrer ainda nesta semana.
Fundação proíbe experimentos com animais vivos
Repórter Diário -
23/08/07 -
www.reporterdiario.com.br/index.php?id=31767
A Faculdade de Medicina da Fundação do ABC proibiu o uso de
animais vivos nas aulas de graduação. A resolução, que está em
vigor deste 17 de agosto, transforma a instituição na primeira
do País a abolir completamente essa prática.
A utilização de animais vivos está liberada somente para
pesquisas inéditas, com relevância científica e previamente
aprovadas pelo CEEA (Comitê de Ética em Experimentação Animal)
da faculdade.
As alternativas para substituição de animais vivos são
softwares, bonecos de auto-experimentação, uso de animais
quimicamente preservados e incorporação dos cursos básicos à
prática clínica – quando o aluno passa a aprender com casos
reais, em seres humanos. Apesar de comum em faculdades e
universidades com graduações em saúde, a experimentação animal
é proibida por lei “sempre que existirem recursos
alternativos”.
Giovana Damaceno - 15/08/07
Numa atitude pioneira na região o Centro
Universitário de Volta Redonda - UniFOA proibiu,
esta semana, através de uma portaria assinada pelo
Reitor Jessé de Hollanda Cordeiro Júnior, o uso de
qualquer animal doméstico em aulas e experiências.
A medida já entrou em vigor.
Segundo o presidente da FOA, Dauro Aragão,
proprietário de dois cães, esta foi uma medida
pela qual ele sempre lutou e que agora se tornou
realidade. “Demoramos a decidir, mas enfim
conseguimos”, reconhece o presidente. Ele destacou
que além da instituição estar se enquadrando na
mesma política de preservação adotadas em grandes
universidades do país, há o aspecto humanístico da
questão porque os animais precisam ser dfefendidos
pelos humanos e não agredidos.
Dauro destacou a importância da Sociedade
Protetora dos Animais de Volta Redonda que através
de seus membros, como a fotógrafa Liz Guimarães e
a jornalista Giovana Damaceno, o incentivaram a
tomar tal medida.
A Portaria do UniFOA foi elogiada por Liz, que
além de sócia da SPA é coordenadora do grupo
Vira-Lata. “Foi inteligente e de muita
sensibilidade por parte da presidência e da
reitoria da FOA/UniFOA. Um ato de estrema
consciência ambiental. Espero que sirva de exemplo
para outras universidades", destacou.
Qualidade continua
Segundo o coordenador do curso de Medicina do
UniFOA, Rônel Mascarenhas e Silva, a proibição do
uso de animais domésticos em sala de aula não
afetará em nada a qualidade do seu curso ou dos
demais que deles faziam uso. Ele explicou que na
pratica cirúrgica os cachorros e porcos serão
substituídos por recursos mais modernos, como
filmes e manequins e treinamento na rede
conveniada de hospitais. “O UniFOA se alia a uma
tendência mundial de preservar cada vez mais os
animais e é o pioneiro desta prática na região”,
afirmou o professor.
O Ministério Público Federal de Alagoas (MPF/AL) decidiu que
as instituições de ensino superior do Estado terão que usar
anestesia em experiências com animais, durante as aulas
práticas. A decisão atinge duas universidades e uma faculdade
privada alagoanas.
Além disso, a procuradora da República Niedja Kaspary
determinou que as entidades terão 90 dias para suspender
experiências que causem lesões físicas, dor, sofrimento ou
morte destes animais, com ou sem o uso de cobais. Ela propõe a
substituição das cobaias por métodos alternativos da medicina,
como a realização de testes em softwares.
"Mesmo o emprego de anestesia não afasta o caráter cruel dos
procedimentos experimentais, tampouco sua ilicitude, uma vez
que o experimento dificilmente se restringe ao ato cirúrgico
em si, mas envolve um angustiante período pré-operatório e,
por vezes, a observação clínica do animal, que pode levar
dias, semanas ou meses", observa.
A decisão do MPF segue os mesmos moldes da justiça gaúcha, que
há 15 dias aplicou o mesmo dispositivo nas faculdades do Rio
Grande do Sul, proibindo o sacrifício de animais para testes
laboratoriais.
O presidente do Comitê de Ética da Universidade Federal de
Alagoas (Ufal), Walter Matias, disse que neste mês será feita
uma reunião para estudar alternativas para o assunto. "Não
podemos ir de encontro à legislação. Esperamos que os
pesquisadores compreendam", avaliou. A Ufal é uma das
atingidas pela medida.
Para ele, o comitê vai discutir formas alternativas para as
pesquisas. "Com as novas pesquisas, não temos problemas por
causa da legislação. O que vamos pensar é sobre as antigas,
que estão sendo tocadas, inclusive com apoio internacional",
enfatizou.
A procuradora lembrou que o atendimento da
recomendação é obrigatório e deu prazo dez dias para que
instituições informem ao MPF sobre as medidas tomadas. Se não
houver o cumprimento, o ministério tomará as medidas judiciais
cabíveis, podendo ajuizar ações civis com pedido de
ressarcimento, ações por improbidade administrativa e/ou
criminais contra os responsáveis.
Coca-Cola e PepsiCo concordam em
coibir testes em animais
Portal Uol - Notícias - 31/05/07
Brenda Goodman
Em Atlanta
Sob pressão de defensores de direitos dos animais,
duas gigantes de refrigerantes, a Coca-Cola e a
PepsiCo, concordaram em parar de financiar
diretamente pesquisa que use animais em testes
para desenvolver seus produtos, exceto quando tais
testes forem exigidos por lei.
Pesquisadores da People for the Ethical Treatment
of Animals (Pessoas pelo tratamento ético dos
animais, Peta) buscaram garantias após a
descoberta de estudos, financiados pelas empresas,
que usavam animais como ratos e chimpanzés para
testar percepção de sabor e, em alguns casos,
reforçar o apoio a alegações de saúde
promocionais.
A PepsiCo disse que deixará de financiar
diretamente experiências em animais, incluindo
algumas que financiava por meio de verbas
concedidas a estudantes de doutorado por meio de
seu Instituto Gatorade de Ciência do Esporte.
Elaine Palmer, uma porta-voz da PepsiCo, disse que
apesar da empresa nunca ter apoiado a idéia de
testes em animais, "nós não a policiávamos, de
forma que tal parte é nova".
A Coca-Cola e a PepsiCo são as maiores indústrias
a concordar com a proibição.
A Coca-Cola também disse que cancelará uma
subvenção dada a um pesquisador da Virginia
Commonwealth University que estava estudando a
percepção de paladar em ratos, que têm certos
caminhos do paladar em comum com os seres humanos.
Os representantes da Coca-Cola e da universidade
se recusaram a dizer quanto era o valor da verba
fornecida pela empresa ou elaborar qual seria a
aplicação final da pesquisa.
Uma associada de pesquisa da Peta, Shalin G. Gala,
disse: "Nós vemos estas declarações da Coca e
Pepsi, conglomerados globais imensos, como o
início do fim de todos os testes de alimentos em
animais".
As duas gigantes de refrigerantes são as mais
recentes empresas a responder às pressões da Peta,
que montou uma campanha para denunciar as práticas
de testes em animais na indústria de bebidas, um
setor que, diferente da indústria de cosméticos e
farmacêutica, praticamente passava despercebida na
arena de testes em animais.
Em janeiro, a Roll International, a empresa que
produz o suco de romã POM Wonderful, concordou em
cessar os testes em animais depois que a Peta
revelou um estudo de 2005, financiado pela
empresa, que testou o suco para saber se poderia
induzir artificialmente disfunção erétil em
coelhos.
Tradução: George El Khouri Andolfato
O Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos
Estados Unidos vai parar de criar chimpanzés para utilização
em pesquisas médicas governamentais, anunciou nesta
qunta-feira a organização de defesa dos direitos dos animais
The Humane Society.
Segundo a entidade, o Centro Nacional de Recursos e
Investigações do NIH (NCRR) alegou motivos financeiros para
tomar a decisão. Mas o fim do uso de chimpanzés para
experiências médicas é uma reivindicação dos grupos de defesa
dos animais.
O NCRR disse esta semana em comunicado de imprensa no seu site
que os chimpanzés podem viver cerca de 50 anos em cativeiro.
Um cuidado de alta qualidade para os animais representa uma
despesa acima de US$ 500 mil anuais, um valor que poderia ser
usado para desenvolver outros programas.
The Humane Society especula que a decisão tenha sido adotada
também por possíveis motivos éticos. Segundo o grupo, a partir
de agora o NCRR financiará somente os cerca de 500 chimpanzés
que já estão em seus laboratórios e 90 que vivem em santuários
federais porque "não são mais necessários para investigações".
"A decisão constitui um enorme passo rumo a um futuro em que
não se utilizarão mais os chimpanzés para pesquisas e testes",
disse Kathleen Conlee, diretora do programa de animais
utilizados para pesquisa da Humane Society, em comunicado de
imprensa divulgado hoje.
"É uma decisão monumental", disse.
"Nosso objetivo final é acabar com o uso de chimpanzés para
investigações e levar todos a um santuário apropriado e
permanente", concluiu a defensora dos direitos dos animais.
Apesar da decisão, o NCRR disse que está consciente da
importância dos chimpanzés para a pesquisa biomédica. Mas
alegou a "responsabilidade fiscal" para justificar a medida.
Cerca de 1.300 chimpanzés vivem atualmente nos laboratórios
americanos, alguns capturados ainda filhotes na África e
outros nascidos em cativeiro, em centros de pesquisa, em
zoológicos ou em circos.
Os movimentos das patas traseiras de Digo e Lola podem
resgatar a esperança de pessoas obrigadas a locomover-se em
cadeiras de rodas. O casal de gatos paraplégicos ainda não
voltou a andar, mas já recuperou a sensibilidade e controle
dos movimentos das patas traseiras graças a uma inédita
terapia com células-tronco adultas desenvolvida por
pesquisadores da Escola de Veterinária da Universidade Federal
da Bahia (Ufba), em parceria com cientistas da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz-BA).
O trabalho é inédito e será apreciado pelo Conselho Nacional
de Ética em Pesquisa (Conep). Somente após a liberação do
órgão, poderá ser utilizado em humanos, em caráter
experimental. A única referência conhecida de utilização de
células-tronco em lesões de animais é o tratamento de
contusões em patas de cavalos de competição, nos EUA. “Os
resultados são uma promessa bastante positiva, mas levará de
dois a três anos para que ele se transforme em procedimento
médico”, pondera o pesquisador-titular da Fiocruz, Ricardo
Ribeiro dos Santos, 65 anos, que desde 2003 coordena, ao lado
da pesquisadora-associada Milena Botelho Soares, 38, um grupo
de pesquisa em terapia celular no combate à Doença de Chagas,
com 30 pacientes.
Foi a partir desse know-how que os coordenadores do grupo de
pesquisa em Biotecnologia Aplicada à Terapêutica Veterinária
Paulo Henrique Palis Aguiar, 44, e Stella Maria Barrouin Melo,
44, resolveram implantar células-tronco em animais que estavam
desenganados. “Diferentemente das pessoas paraplégicas, que
vão para a cadeira de rodas ou para a cama, um animal com
paralisia normalmente é indicado à eutanásia”, compara Stella.
“Eles não podem viver sem urinar e defecar, nem ficar se
arrastando pelo chão e provocando lesões e feridas com
exposição de ossos e músculos”, explica.
Lesões – “É importante observar que não trabalhamos com
cobaias, não provocamos nenhum tipo de lesão artificial para
depois repará-la” , argumenta Aguiar. “E não fazemos isso não
só porque essas lesões provocadas em laboratório não refletem
o que acontece na vida real, mas principalmente por questões
éticas”, pondera. Digo foi atropelado e Lola caiu do sétimo
andar. Ambos tiveram fratura com lesão definitiva de medula.
“Não havia nenhuma perspectiva de melhora com tratamento
conhecido. Ao contrário de pele, fígado e ossos, a medula não
é um órgão regenerável”, observa Euler Moraes Penha, 28,
cirurgião veterinário que operou os dois animais na Clínica
Planeta Animal, na Barra. Ambos os felinos foram submetidos à
técnica conhecida como hemilaminectomia, mesma cirurgia usada
em pacientes com hérnia de disco.
Durante o ato cirúrgico, foram implantadas nas áreas
lesionadas células-tronco adultas extraídas uma semana antes.
O material foi puncionado das medulas ósseas dos próprios
pacientes e enriquecido em laboratório. Esse procedimento é
considerado fundamental para o sucesso do trabalho, já que é
numa solução de aminoácidos e vitaminas que as células são
multiplicadas até que se chegue ao número considerado
necessário para a implantação –
número esse que vem sendo guardado a sete chaves pelos
pesquisadores, uma vez que se constitui num segredo
científico.
Segundo a veterinária Gabriela Azevedo, uma das proprietárias
da Planeta Animal, uma cirurgia como a de Digo e Lola não
sairia por menos de R$ 700, sem contar os R$ 5 mil referentes
à coleta e cutura das células-tronco, mais as diárias de R$
150 pelo internamento dos animais. Tanto os pesquisadores,
quanto a proprietária de Digo, funcionária da clínica, foram
isentados de pagamento. “Temos interesse em atrelar a imagem
da nossa clínica à tecnologia de ponta e mostrar que temos
capacidade de sediar experimentos de alta complexidade”,
justifica Gabriela.
Fisioterapia – Na última semana, Digo e Lola ganharam
mais uma aliada na dura batalha que travam com os próprios
músculos para voltar a andar: a fisioterapeuta Cláudia Maria
Bahia Pinheiro, 54, que passou a coordenar sessões diárias de
exercícios. Embora tenha dedicado os 30 anos de carreira
exclusivamente na recuperação de humanos, ela lança mão de sua
experiência com ratos na tese de doutorado em Cinesiologia
(estudo dos ovimentos) para criar um protocolo adequado aos
seus mais novos pacientes.
“Primeiro tive de ganhar a confiança deles, agora treino
equilíbrio e postura. Busco novos aminhos que já existem em
outros lugares, mas que aqui na Bahia são inéditos”, diz,
referindo-se à ausência de fisioterapeutas especializados em
animais no Estado. Digo e Lola voltarão a andar? Antes mesmo
de formulada a pergunta, ela se adianta: “A esperança é que
sim, mas como se faz com qualquer paciente, não se podem dizer
as palavras ‘sempre’, e ‘nunca’”.
A União Europeia (UE) aprovou hoje vários testes que evitam o
recurso ` experimentação animal para avaliar a irritação
cutânea e ocular de determinadas substâncias químicas, escreve
a agência Lusa.
Os testes ‘in vitro' aprovados pelo Centro Europeu de
Validação de Métodos Alternativos, um organismo criado pela
Comissão Europeia para coordenar os métodos de ensaio animal,
são um «passo importante» para acabar com a utilização de
coelhos nas experiências com produtos químicos, informou o
executivo comunitário num comunicado, segundo a Lusa.
Três destes são uma alternativa aos ensaios em que,
actualmente, são usados coelhos para avaliar se determinadas
substâncias utilizadas na maquilhagem e produtos cosméticos
produzem irritação na pele.
Outros métodos validados - um para determinar a possível
irritação ocular e outro para averiguar se uma substância pode
provocar alergias cutâneas - mantêm a necessidade de recorrer
a animais, mas numa quantidade inferior ` actual, indicou
Bruxelas, de acordo com a Lusa.
Segundo a CE, os 15 países que até 2004 constituíam a UE,
utilizavam anualmente 10,7 milhões de animais em experiências
para determinar a toxicidade de certas substâncias químicas ou
ingredientes cosméticos.
Com Lusa
Aulas práticas sem animais
Fapesp - 31/01/07 -
www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=6670
Por Thiago Romero
Agência FAPESP - Ao comparar o nível de aprendizagem de dois
grupos de alunos do curso de medicina que tiveram aulas
práticas demonstrativas com e sem utilização de camundongos,
pesquisadores do Centro Universitário Lusíada, em Santos (SP),
concluíram que é possível manter a mesma qualidade de ensino
com a substituição dos animais por outras fontes de
conhecimento.
O estudo se concentrou na disciplina de histologia, que estuda
os tecidos do corpo humano, em aula prática referente à
demonstração de técnicas citológicas. O conteúdo ministrado
aos 128 alunos, divididos em duas turmas, foi idêntico, com
diferença apenas na coleta das células. A primeira turma
coletou células dos órgãos de animais sacrificados e a segunda
utilizou células da mucosa oral dos próprios alunos.
O trabalho, conduzido pelos professores Renata Diniz, Ana
Lúcia Duarte e Charles de Oliveira, foi publicado na Revista
Brasileira de Educação Médica. “Como a finalidade da aula era
visualizar características celulares, não importava se a
célula fosse de humanos ou de animais, já que componentes de
interesse como o núcleo e o citoplasma são iguais em ambos os
casos”, disse Renata à Agência FAPESP.
Com as demonstrações práticas das células encerradas, um
questionário para avaliação da aprendizagem foi aplicado nos
alunos. As respostas foram inseridas em um banco de dados
informatizado e analisadas de maneira quantitativa e
qualitativa. “A análise estatística apontou desempenho
semelhante das duas turmas por não haver diferenças
significativas de acertos e erros nas questões”, afirma.
Segundo ela, o trabalho não propõe a eliminação total dos
animais em sala de aula. “A idéia é apenas alertar professores
da área de saúde para a existência de outras metodologias de
ensino que possam oferecer o mesmo nível de aprendizagem
respeitando a vida animal”, explica Renata, ressaltando que,
após os resultados do estudo, a disciplina de histologia do
Centro Universitário Lusíada não utilizou mais camundongos em
aulas práticas.
Outra metodologia bastante utilizada no exterior e que está se
tornando freqüente no Brasil, explica Renata Diniz, são os
modelos que imitam peles e órgãos de animais e de humanos.
“Hoje existem modelos que imitam a elasticidade da pele para
que o aluno consiga praticar técnicas cirúrgicas. A vantagem é
que o mesmo modelo pode ser utilizado durante vários anos e o
aluno pode praticar o mesmo procedimento várias vezes. O
animal, por sua vez, após ser sacrificado é aproveitado em
poucas aulas”, compara.
Sentimentos diversos
Em uma das questões do questionário, os alunos tinham que
indicar também três sentimentos vivenciados na presença dos
animais, a partir de 18 palavras listadas. Os sentimentos mais
citados foram curiosidade, ansiedade e tranqüilidade. Por
outro lado, felicidade e orgulho não foram assinalados por
nenhum estudante.
Em seguida, os sentimentos foram agrupados em positivos,
negativos, curiosidade e indiferença. Considerando os dois
grupos analisados, o sentimento negativo foi indicado por 50%
dos indivíduos e o positivo por 18%. De acordo com a análise
separada dos sexos masculino e feminino, verificou-se um
predomínio de sentimentos negativos entre as mulheres (61%) em
comparação com os homens (27%).
“De maneira geral, o comportamento emocional dos alunos muda
com a presença de animais em aulas práticas. Eles ficam mais
agitados, principalmente os homens, e acabam passando essa
ansiedade para os colegas”, justifica Renata Diniz.
Para ela, a alta prevalência de sentimentos negativos entre as
mulheres pode ser explicada pela maior aversão em relação ao
sofrimento dos animais. “Os homens, talvez por uma questão
social, tendem a disfarçar suas emoções, o que explicaria o
baixo predomínio de sentimentos negativos relacionados aos
animais de laboratório”, sugere a pesquisadora, que também
leciona no curso de medicina veterinária do Centro
Universitário Monte Serrat (Unimonte), em Santos.
Para ler o artigo Animais em aulas práticas: podemos
substituí-los com a mesma qualidade de ensino?, disponível na
biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui:
Desenvolvido software destinado a testes farmacológicos
20/11/06 -
www.mni.pt/destaques/?cod=8840&cor=azul&MNI=369924b5d75d47d4e959038c485c41c8
Programa desenvolvido pela Universidade de Ciência e
Tecnologia da Noruega
Investigadores noruegueses desenvolveram um método de
simulação por computador que permite testar em alguns minutos
novos medicamentos, poupando tempo e dinheiro e evitando
testes em animais.
O método, desenvolvido na Universidade de Ciência e Tecnologia
da Noruega, permite que os investigadores encontrem mais
rapidamente a substância com as qualidades e características
que pretendem para determinado fim, antes de ser testada no
mundo real, com a ajuda de cálculos matemáticos e simulação
por computador.
Para comprovar a eficácia do programa, os investigadores estão
a avaliar novos tratamentos para o cancro, a partir de mais de
250 mil compostos químicos, até agora já identificaram cerca
de 1.200 compostos.
A líder da investigação, a química Kristin Tondel salienta que
se estas substâncias fossem avaliadas num laboratório pelos
métodos tradicionais, seriam analisadas "talvez de 20 a 40
substâncias por ano, o que faria com que demorassem cerca de
10 mil anos a testar os 250 mil compostos químicos iniciais".
O programa também simula os efeitos que o produto químico tem
no organismo e simular como os diferentes compostos interagem
com as proteínas, a fim identificar candidatas a novos
fármacos. A principal desvantagem do programa é a de que nem
todos os químicos são testados fisicamente, pelo que não
permite respostas definitivas a respeito do seu funcionamento.
Fontes: Lusa e Imprensa Internacional
MNI-Médicos Na Internet
Cientistas criam método que evita testes em animais
Portal Terra - 06/11/06 -
http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1232675-EI238,00.html
Uma equipe de pesquisadores da Universidade suíça de Neuchâtel
apresentou nesta segunda-feira um método que permite facilitar
o trabalho dos laboratórios e evitar a utilização de animais
nos testes de produtos contra carrapatos.
O resultado do trabalho realizado por Thomas Krober e Patrick
Guerin no instituto de zoologia do centro universitário é uma
membrana artificial composta de celulose e silicone, que imita
a fisiologia e a elasticidade da pele.
Segundo os especialistas, o dispositivo permite comprovar de
forma mais rápida e econômica a eficácia de produtos contra os
carrapatos.
Além disso, os agentes patógenos depositados pelo carrapato na
camada de sangue subjacente à membrana artificial podem se
recuperar, e sua identificação, segundo os pesquisadores, abre
caminho para a fabricação de remédios específicos contra esses
parasitas.
A Universidade de Neuchâtel assinalou que esse procedimento
pode revelar-se especialmente útil tanto em países tropicais,
onde o gado tenha sido "infestado de carrapatos", como na luta
contra doenças transmitidas por insetos, como os mosquitos e
as mosca tsé-tsé.
EFE
Fígado feito em laboratório
Jornal O Dia - 01/11/06 -
http://odia.terra.com.br/ciencia/htm/geral_65296.asp
Cientistas criam partes do órgão com células-tronco do cordão
umbilical
LONDRES - Cientistas britânicos anunciaram ontem a criação de
partes do fígado humano em laboratório. A miniatura do órgão —
com menos de 3 cm — foi obtida a partir de células-tronco do
cordão umbilical, na Universidade de Newscastle.
Os cientistas garantem que no futuro será possível desenvolver
um fígado de tamanho real para ser usado em transplantes. Mas
há ainda um longo caminho até que isso seja possível.
“Os pesquisadores conseguiram criar o fígado sem precisar de
embriões. É um grande avanço ético”, disse Ian Gilmore,
especialista em fígados no Royal Liverpool Hospital,
acrescentando que o estudo dá esperança aos candidatos a
transplante.
Os coordenadores da pesquisa, Nico Ferraz e Colin McGuckin,
afirmam que em 10 ou 15 anos a técnica utilizada na criação do
fígado poderá ser usada na recuperação de partes do órgão de
pacientes com doenças.
Utilização de cobaias pode ser evitada
A princípio, o órgão desenvolvido no laboratório britânico
poderá ser usado para testar drogas e produtos farmacêuticos,
evitando o uso de cobaias animais e humanas. No Brasil, a
notícia foi bem recebida.
“Isso é ótimo porque possibilita não só a pesquisa de drogas
para o fígado, mas de outras que estão no mercado destinadas a
outras oenças e que vêm causando problemas no fígado”, afirma
o cirurgião hepático do Hospital Geral de Bonsucesso Alexandre
Cerqueira.
No início do ano, seis pacientes ficaram doentes depois de
servir de cobaia em testes no hospital de Northwick Park, em
Londres.
Segundo os médicos britânicos, o tecido do fígado foi
desenvolvido utilizando um “biorreator” da Nasa para simular o
efeito de gravidade zero. O efeito, de acordo com eles,
permite que as células se reproduzam num ritmo mais avançado.
Pesquisadores da Unicamp desenvolvem tecido humano
artificial
Por Eduardo Geraque
O
reconhecimento público da pesquisa feita no
Laboratório de Cultura de Células da Pele da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) ocorreu há pouco
mais de um ano, com a premiação no 4º Congresso
Mundial de Banco de Tecidos como um dos trabalhos
mais inovadores.
Agora, com a publicação de um artigo na revista
São Paulo Medical Journal, a comunidade científica
passa a conhecer os detalhes técnicos do estudo
realizado pela dermatologista Maria Beatriz Puzzi
e colaboradores.
A equipe da Unicamp conseguiu desenvolver pele
humana, com derme e epiderme associadas, em
laboratório. A partir da cultura de fibroblastos
humanos, os pesquisadores obtiveram uma quantidade
suficiente de células para injetar em uma matriz
de colágeno bovino tipo I. Depois de obtida a
derme, por meio de cultura de queratinócitos e
melanócitos também humanos, formou-se a epiderme
diferenciada.
"Aqui no Brasil isso não tinha sido feito. Mesmo
internacionalmente essa técnica é inédita",
explica o cirurgião plástico Luís Ricardo Souto,
pós-graduando na Unicamp e primeiro autor do
artigo. "Sem dúvida, o principal obstáculo para o
avanço dessas pesquisas é de ordem financeira e
não técnico."
Depois de provado o sucesso inicial da técnica, a
equipe dirigida por Maria Beatriz continuou
realizando testes com o material biológico.
Segundo Souto, os novos experimentos confirmam a
viabilidade do procedimento. "Os testes
histoquímicos, por exemplo, estão concluídos. Os
resultados estarão no próximo artigo a ser
submetido para publicação", revela.
Os desdobramentos mais imediatos do procedimento
de produção de pele humana in vitro podem ser
divididos em dois grupos. "Uma das possibilidades
é usar essa pele em laboratório, para o teste de
drogas ou de cosméticos. Isso evitaria a
necessidade de que fossem usados animais vivos
nesses estudos", explica Souto. A segunda opção é
o uso clínico. "Outro caminho é a utilização dessa
técnica para o tratamento de queimaduras ou de
feridas na pele."
Nos testes realizados na Unicamp foram usadas
células da pele do abdômen ou da mama, que haviam
sido descartadas após a realização de cirurgias
convencionais. Todos os protocolos éticos foram
também aprovados sem maiores transtornos. "Haveria
algum problema se fossem usadas células de outra
pessoa. Mas, no nosso caso, os procedimentos foram
feitos em um mesmo indivíduo", explica Souto.
O artigo Model for human skin reconstructed in
vitro composed of associated dermis and epidermis
está disponível na biblioteca eletrônica SciELO (Bireme/FAPESP).
[Fapesp]
Revista
Scientific American - Edição Nº 47 - abril de 2006
Por
Alan M. Goldberg e Thomas Hartung
Diminuir o sofrimento animal pode gerar testes de
segurança mais rigorosos.
Em
1999, um coelho de 2 metros de altura, com orelhas
caídas e olhos tristes,acompanhou o candidato à
presidência dos Estados Unidos Al Gore durante
toda a campanha eleitoral. O crime de Gore: como
vice-presidente, ele havia iniciado um programa de
testes de toxicidade química que causaria o
sofrimento ou a morte de quase 1 milhão de
animais. Para muitos, no entanto, o programa
parecia absolutamente necessário.
Dois
anos antes, o grupo Defesa Ambiental divulgara a
existência de dados sobre a segurança de apenas
25% das 100 mil substâncias químicas usadas,
informação que a Agência de Proteção Ambiental (EPA)
e o Conselho Americano de Química confirmaram.
Gore havia reunido ativistas ambientais,
reguladores e fabricantes a fim de iniciar um
programa para avaliar a segurança mínima de 2.800
substâncias produzidas ou importadas pelos Estados
Unidos em quantidades de até 500 mil toneladas. Um
web site divulgaria os resultados obtidos.
O
coelho gigante enfatizava uma verdade: a cada ano,
milhões de animais são sacrificados em testes de
toxicidade, e novos programas poderiam aumentar
esse número. A EPA listou cerca de 80 mil
substâncias cujos dados básicos de segurança
deveriam ser obtidos com prioridade; além disso,
sua ambiciosa Iniciativa de Saúde das Crianças
busca examinar fenômenos como os efeitos de longo
prazo da exposição do feto a produtos químicos.
Outro projeto da agência é estudar as
conseqüências neurológicas de chumbo, mercúrio e
outros venenos para a reprodução e o
desenvolvimento.
Do
outro lado do Atlântico, o programa para Registro,
Avaliação e Autorização de Substâncias Químicas (Reach)
avaliará a segurança de 30 mil substâncias
produzidas ou comercializadas na Europa. Em 2001,
o Conselho de Pesquisa Médica do Reino Unido
calculou que esse programa exigirá US$ 11,5
bilhões, 40 anos e mais de 13 milhões de animais.
No total, os programas existentes estimam empregar
centenas de milhões de animais e dezenas de
bilhões de dólares apenas para determinar a
segurança das substâncias. E todos os anos, a
indústria acrescenta milhares de novas substâncias
a essa lista.
Os
autores deste artigo pertencem a uma pequena
comunidade de cientistas espalhada por indústrias,
universidades e governo que há décadas procura
resolver o conflito entre segurança e humanidade.
O programa de Gore nos deu a chance de mostrar
nossas propostas. A pedido da Defesa Ambiental, um
de nós (Goldberg) reuniu cientistas das
universidades Johns Hopkins, Carnegie Mellon e
Pittsburgh para investigar como o programa poderia
atingir seus objetivos com número menor de
animais.
O
programa deveria coletar uma quantidade mínima de
dados denominada Screening information data set, o
que a Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE) recomenda para
avaliar o risco de um produto químico. Neste
programa, 430 animais seriam necessários para cada
produto analisado. Felizmente, a OCDE, que
padroniza as normas científicas de 30 países,
incluindo os Estados Unidos, aceita protocolos
inovadores para testes que exigem menos animais.
Usando as diretrizes da organização e reformulando
alguns protocolos para extrair múltiplos
resultados de testes simples, demonstramos que o
número de animais poderia ser reduzido em cerca de
80% - para 86 animais - sem perda de dados.
Acusada pelos defensores dos animais de ser uma
apologia da pesquisa animal e ridicularizada pelos
cientistas por ser sentimentalista, a ciência que
busca alternativas para os testes de toxicidade
ainda assim trilha o caminho onde o bem-estar dos
bichos e o rigor científico se encontram. Esse
campo está mudando o modo como substâncias
químicas e produtos biológicos são produzidos e
testados.
Redução, Refinamento e Substituição
As
exigências legais para esses testes variam em todo
o mundo. Na União Européia, por exemplo, desde
2003 nenhum cosmético pode ser vendido se o
produto final ou qualquer de seus ingredientes
tiver sido testado em animais desde que
alternativas existam. A abolição dos testes de
ingredientes cosméticos em animais deverá entrar
em vigor até 2009. Já a FDA, agência americana de
controle de alimentos e fármacos, exige apenas que
certos dados de segurança estejam disponíveis após
sua comercialização. Com o tempo, a FDA
desenvolveu diretrizes para lidar com denúncias
sobre segurança; entre elas, o controvertido teste
de irritação ocular de Draize, que consiste em
aplicar uma substância nos olhos de coelhos
albinos para avaliar seu efeito.
A EPA
e suas equivalentes européias especificam o método
para avaliar produtos agroquímicos. O teste de um
único pesticida consome no mínimo dois anos e
cerca de 10 mil animais de várias espécies. Os
cientistas determinam se o produto é absorvido
pela pele, se pode ser inalado, se deixa resíduos
na colheita ou se pode ser ingerido. Para cada
item, várias questões devem ser respondidas para
indivíduos - fetos inclusive - de diferentes
idades: quanto tempo a pessoa pode ser exposta,
que quantidade do produto pode absorver e como ele
se distribui no organismo.
Se o
produto não entra na corrente sangüínea, os
cientistas só se preocupam com os efeitos de sua
aplicação tópica. Porém, se o composto é absorvido
pelo sangue, seus efeitos e os de seus metabólitos
em vários órgãos devem ser verificados. No
procedimento-padrão, a substância é ministrada a
ratos, camundongos, cães e outros mamíferos
durante toda a vida desses animais para observar
disfunções, câncer e outras doenças.
Também as crias são acompanhadas por toda a vida.
Outros testes podem ser incorporados ou feitos em
separado.
Nove
empresas multinacionais revelaram a Goldberg que
usam placa de Petri ou testes com não-mamíferos,
como peixes ou vermes, para determinar se uma
substância é segura para ser produzida. Só então
realizam estudos de longa duração com mamíferos -
para satisfazer seus advogados e as agências
reguladoras. A tabela na página ao lado traz a
série completa de testes em animais exigida para
avaliar a segurança de uma substância ou droga.
Agências governamentais de controle exigem testes
com animais em parte porque algumas das melhores
alternativas são segredos industriais e porque
confiam nesse tipo de procedimento, que já
protegeu a população no passado.
Só
recentemente as agências se mostram mais abertas
para considerar alternativas. A idéia data de
1959, quando William Russell e Rex Burch, da
Federação das Universidades para o Bem-estar
Animal, na Inglaterra, criaram os "três Rs"
reduction, refinement and replacement - redução,
refinamento e substituição - para minimizar o
sofrimento animal inerente a muitos estudos.
Talvez não possamos encontrar alternativas para um
ou outro R, mas a concepção ainda é muito útil.
Redução significa formular testes para gerar
informações adequadas com o menor número possível
de animais. Por exemplo, testes para toxicidade
sistêmica aguda medem os efeitos, observados por
14 dias, da ingestão de determinada substância uma
ou mais vezes em 24 horas. A medida de toxicidade
aguda mais aceita é a dose letal 50% ou LD50:
quantia necessária para matar metade dos animais
em teste. Para definir a dose letal, os técnicos
administram quantidades específicas de uma
substância a cada animal de um grupo de dez machos
e dez fêmeas. Usando seis ou sete grupos, cada um
recebendo uma dose diferente, é só contar os
mortos.
Os
técnicos começaram a ver esse teste como matança e
procuraram métodos mais eficientes. Desde 1989,
análises estatísticas permitem que uma LD50 seja
obtida com 45 animais, e hoje a OCDE aceita um
padrão que mede a dose letal com 16 animais em
média. Um estudo recém-finalizado promete reduzir
esse número para cerca de seis animais por
substância.
Em
outro caso, técnicas de imagem como raios X,
ressonância magnética e tomografia por emissão de
pósitrons podem revelar diferenças entre uma vasta
série de estados normais e alterados em órgãos dos
animais. Essas técnicas permitem acompanhar um
único animal durante o teste como alternativa ao
método tradicional: tomar um grupo de animais e
matar um a cada estágio para, por exemplo,
determinar o estado de seu fígado. As imagens
proporcionam um melhor controle dos dados e
reduzem o uso de animais em até 80%.
Uma
técnica futurista, a biofotônica, desenvolvida por
Christopher H. Contag e Pamela R. Contag, da
Universidade Stanford, ajusta-se com mais precisão
à esfera do refinamento: conceber testes que
envolvam menos sofrimento animal. Por exemplo, um
pesquisador introduz o gene da enzima luciferase
numa célula cancerosa e insere-a num animal. A
enzima faz com que a célula cancerosa e suas
filhas brilhem. Facilmente medidos por
instrumentos especializados, os fótons permitem
monitorar o crescimento do câncer sob a influência
de agentes químicos e farmacêuticos - bem antes de
o animal desenvolver um tumor palpável. De fato, o
procedimento elimina o sofrimento e pode ser usado
para estudar uma grande variedade de doenças em
estágios iniciais.
Outra
técnica de refinamento, bastante útil em testes de
vacina, consiste em fixar um "ponto final mais
humano", para que um estudo doloroso termine tão
logo dados relevantes sejam coletados. Por
exemplo, se a temperatura do corpo de um animal
cai abaixo de um limite, jamais será recuperada; o
teste pode, então, ser interrompido sem perda de
dados e poupar a criatura de morte lenta. Se um
animal vacinado contra a raiva e infectado com o
vírus começar a girar, é sinal de que a vacina
falhou e o animal pode ser humanamente
sacrificado, o que o livrará de horas de agonia.
Melhor ainda, os técnicos que avaliam a eficácia
de vacinas podem checar o nível de anticorpos após
a infecção, em vez de esperar que o animal
desenvolva sinais da doença. O refinamento também
inclui o uso de medicamentos e anestésicos para
reduzir a dor.
Além
disso, outra classe de refinamento usa espécies de
níveis inferiores na escala evolutiva, na crença
de que sofrem menos. Tornou-se comum o uso do
peixe-zebra (ou paulistinha) e do nematóide
Caenorhabditis elegans para observar o
desenvolvimento do sistema nervoso sob a
influência de substâncias químicas. Nas duas
espécies, os cientistas estabeleceram a função dos
genes essenciais: se uma substância liga ou
desliga um gene, os pesquisadores sabem como a
mudança afetará a produção de proteína e o
metabolismo celular. Basta mergulhar um grupo de
genes em uma substância - um chip de 2,5 por 5 cm
contendo, digamos, os 9 mil genes relevantes do
peixe-zebra - para saber quais deles são ativados
por essa substância.
Recentemente, empresas começaram a produzir chips
de genes humanos, incluindo os que, acredita-se,
controlam a resposta celular à toxicidade. A
tecnologia, que alcançará seu auge no futuro - já
que a interpretação da mensagem de um chip ainda é
um desafio -, ilustra o mais interessante dos Rs,
a substituição (replacement). Aqui, a idéia é
abolir absolutamente o uso de animais em testes. A
maioria dessas alternativas deve sua
existência ao tremendo progresso na criação de
tecnologias baratas, rápidas e eficientes, e não
aos apelos por um tratamento humanizado. Por
exemplo, a maioria das análises de hormônios, como
os testes de gravidez, que já envolveu testes de
longa duração em animais vivos, é agora realizada
por meios alternativos (químicos ou imunológicos).
Um
dos primeiros exemplos de substituição foi a
descoberta casual, na década de 70, de uma
alternativa para o teste de pirogênio, feita por
Henry Wagner da Universidade Johns Hopkins. O
método verifica a presença de contaminantes
bacterianos que causam a febre, injetando uma
substância em coelhos e medindo sua temperatura 24
horas depois.
Wagner desenvolvia radioisótopos de meia-vida
curta como técnica de diagnóstico por imagem em
humanos, e devia assegurar que estavam livres de
toxinas bacterianas - mas os radioisótopos
estariam inativos no momento em que o teste com os
coelhos fornecesse os resultados.
Wagner sabia que Federick Bang, também da Johns
Hopkins, havia demonstrado que a hemolinfa
(sangue) do caranguejo-ferradura reagia a
importantes toxinas bacterianas de maneira
previsível e mensurável. A FDA logo autorizou o
uso do teste, chamado Limulus amebocyte lysate ou
LAL, para detectar pirogênios.
Recentemente, Albrecht Wendel, da Universidade de
Konstanz, Alemanha, e um de nós (Hartung)
demonstraram que as toxinas bacterianas podem ser
detectadas por sua propriedade de induzir os
leucócitos do sangue humano a liberar proteínas
chamadas citocinas, algumas das quais estimulam o
cérebro a gerar a febre. Assim, a simples
verificação das citocinas no sangue revela a
presença de toxinas relevantes, superando diversas
limitações do teste LAL.
Encontrar certas substituições - como para o teste
de irritação ocular de Draize, muito doloroso para
os coelhos - exige pôr em foco o bem-estar animal.
Há uma década, pesquisadores começaram a realizar
o teste em globos oculares frescos obtidos em
abatedouros, em vez de usar coelhos vivos. Embora
incipiente, a alternativa eliminou a dor e o uso
de animais extras. Na Alemanha, a fina membrana
que separa a gema da clara no ovo de galinha tem
servido como substituta para a córnea nesses
testes.
Na
década de 80, o Centro de Alternativas para Testes
em Animais da Johns Hopkins, dirigido por
Goldberg, financiou pesquisas para verificar como
diferentes substâncias afetam culturas de tecidos
bidimensionais de células da córnea humana.
Baseadas nesses estudos, várias empresas produzem
tecidos tridimensionais, que reproduzem com
precisão as superfícies do olho humano -
permitindo observar irritações e mudanças
estruturais sutis.
Hoje,
podemos desenvolver uma grande variedade de
células humanas de órgãos como pele, pulmão,
olhos, músculo e membranas mucosas. Mais
interessante é a reconstituição de tecidos -
construções tridimensionais de células
especializadas, cultivadas num sistema de suporte.
Além do olho, tecidos artificiais são produzidos
para pele, pulmão, sistema gastrointestinal e
revestimento da boca e da vagina. Amplamente
adotados pela indústria, substituem os animais num
grande número de testes. (Ainda resta desenvolver
culturas tridimensionais para órgãos como o
fígado.)
O
mais importante é que culturas de células e
tecidos possibilitam a observação dos mecanismos
biológicos pelos quais uma substância química
atua, como nunca foi possível com animais. Podemos
hoje produzir in vitro os processos bioquímicos
gerados por uma substância. No futuro, esses
estudos permitirão prever as conseqüências
funcionais - alterações nos genes, mudanças no
crescimento celular etc. - da exposição de uma
célula, no corpo humano, a uma substância química.
Mais ainda, a cultura de múltiplos tecidos numa
única câmara, sistema recém-criado pela AP
Research, em Baltimore, pode reproduzir interações
complexas como a transformação de uma substância
em outra pela atividade metabólica de um órgão
que, por sua vez, afeta outros órgãos. Esses
progressos, embora ainda nos primeiros passos,
poderão abolir o uso de animais em estudos de
toxicodinâmica: a cadeia de eventos pela qual uma
substância é distribuída, metabolizada e
excretada.
Talvez as últimas substituições não serão in vitro,
mas "in silicium": a indústria farmacêutica começa
a usar modelos computadorizados de interação dos
sistemas orgânicos para estudar os efeitos de
drogas.
Charles DeLisi, da Universidade de Boston, e
outros procuram patrocinadores para o Projeto
Homem Virtual, uma aplicação da informática
distribuída, da escala do Projeto Genoma Humano.
Talvez, o homem virtual possa um dia simular a
resposta humana a estressores biológicos, físicos
e químicos, tornando desnecessários os estudos com
animais.
Convencendo os Céticos
Hoje,
a descoberta de novas alternativas ainda é um
processo incerto. Obter recursos para pesquisas
específicas tem sido difícil, ao menos nos Estados
Unidos. O Programa Nacional de Toxicologia, que
coordena os programas federais de testes
toxicológicos e os Institutos Nacionais das
Ciências da Saúde Ambiental, fornece grande parte
dos fundos para essas pesquisas. Embora as
agências americanas desejem uma ciência mais
humana, na última década investiram menos de US$
10 milhões para validar alternativas e regular seu
uso. Já a União Européia gastou mais de US$ 300
milhões no mesmo período em métodos alternativos e
sua validação, e os países-membros também
investiram - só a Alemanha ultrapassou os US$ 100
milhões - na busca de alternativas. (Na verdade,
os EUA e a UE gastam muitos milhões de dólares em
pesquisas que um dia levarão a essas
alternativas.)
A
eficácia de uma alternativa deve ser provada para
que as agências reguladoras possam aceitá-la. O
Comitê de Coordenação Interagências para a
Validação de Métodos Alternativos (ICCVAM),
formada por representantes de 15 agências federais
americanas, designou comissões de especialistas
para avaliar a literatura, incluindo os protocolos
das empresas, para determinar a validade de um
teste. Então, dependendo da sua jurisdição, cada
agência decide se aceita o teste. Desde a sua
criação em 1977, o Comitê avaliou 16 métodos
alternativos, seis dos quais foram adotados,
enquanto os demais passam por aperfeiçoamentos. No
passado, um teste aprovado poderia levar uma
década para ser amplamente adotado, mas com o
comitê esse tempo é menor.
Na
Europa, a validação de uma alternativa segue a
complexidade dos experimentos clínicos. Assim como
esses experimentos são "baseados em evidências" e
devem demonstrar que uma droga é eficaz, os testes
de validação também devem provar que uma
alternativa é eficiente. O conceito de validação
obteve consenso internacional num seminário da
OCDE em Solna, Suécia, em 1996. De acordo com os
Princípios de Solna, o Centro Europeu para a
Validação de Métodos Alternativos (ECVAM) e também
o ICCVAM realizam estudos de "pré-validação" para
avaliar o potencial de uma alternativa e eliminar
problemas técnicos com o seu protocolo. Na Europa,
se o teste passa, o ECVAM seleciona vários
laboratórios em diferentes países para submeter
uma grande gama de substâncias codificadas ao
teste alternativo. Muitas vezes, os laboratórios
avaliam muitas alternativas potenciais para um
dado teste com animais. Cerca de 35 cientistas,
representando os 25 países-membros, a Comissão
Européia, as associações acadêmicas, a indústria e
os grupos de defesa dos animais, julgam os
resultados; o ICCVAM participa como observador. Se
uma alternativa for capaz de aferir com precisão a
propriedade relevante das substâncias e seus
resultados forem consistentes e reproduzíveis em
laboratório, o comitê declara formalmente sua
validade.
Num
recente teste de validação, por exemplo, dez
laboratórios passaram três anos estudando seis
alternativas para o teste de pirogênio,
verificando a sua capacidade para analisar as
substâncias causadoras da febre em 190 amostras
não identificadas. Cinco testes passaram para a
fase de revisão, agora em andamento. Desde a sua
fundação em 1991, o ECVAM aprovou 17 alternativas;
nove estão no estágio final de revisão; outras 25
passam por análises finais. Pela lei, uma
alternativa deve ser usada na Europa quando
aprovada, mas na prática a demora de vários anos
ainda é comum. À medida que os reguladores se
acostumam aos novos métodos, são mais rápidos em
aceitá-los.
A
busca pela substituição sofreu um grande revés no
início dos anos 90, quando seis testes de
validação para alternativas ao teste de Draize
falharam. O resultado foi embaraçoso, pois algumas
delas eram usadas na indústria de cosméticos sem
problemas. Após revisar os dados, hoje
compreendemos por que falharam: os resultados
haviam sido comparados aos do próprio teste de
Draize, que produz muitos falsos positivos. O
ICCVAM e o ECVAM estão hoje revisando as
informações sobre o teste de Draize e suas
alternativas. O estudo será a base de uma
declaração de validade ou de outro teste de
validação de alternativas e, desta vez, confiamos
no seu êxito.
Um
dia, o coelho de Al Gore desmaiou devido ao calor
e foi reanimado pelos assessores do candidato. O
incidente sugere uma metáfora oportuna: os
supostos inimigos dos animais correm em seu
socorro. As pesquisas podem reduzir drasticamente
o uso de animais. Acredita-se que as alternativas
existentes diminuam em 70% o número de animais
para o programa Reach, e é provável que um número
próximo a esse seja prioridade da EPA. Em outras
palavras, as alternativas podem economizar talvez
bilhões de dólares e eliminar décadas de testes -
ao mesmo tempo que produzem dados mais rigorosos e
pertinentes. A nova ciência será capaz então de
proteger melhor não apenas as criaturas que
deveria ajudar, mas também a todos nós.
Resumo/A Nova Tecnologia
Testes de segurança de substâncias químicas de uso
doméstico e agrário, assim como de produtos
médicos, tradicionalmente usam milhões de animais
a cada ano em procedimentos muito dolorosos.
Novos
métodos baseados em culturas de células e tecidos,
técnicas de imagem ou análises estatísticas têm
reduzido grandemente a necessidade de testes em
animais e o sofrimento causado pelos estudos.
A
nova toxicologia está mais fundamentada em
rigorosas evidências científicas e pode economizar
tempo e dinheiro.
Os
autores
Alan
M. Goldberg e Thomas Hartung, toxicologistas
sensibilizados pelo sofrimento animal que
testemunharam, decidiram procurar alternativas.
Goldberg é doutor em farmacologia pela
Universidade de Minnesota e professor de
toxicologia da Universidade Johns Hopkins, onde
dirige o Centro de Alternativas para Testes em
Animais. É editor da série Alternative methods in
Toxicology, participa de várias comissões, tendo
recebido diversos prêmios, incluindo o da
Sociedade de Toxicologia.
Hartung é doutor em farmacologia bioquímica pela
Universidade de Konstanz, Alemanha, e doutor
em toxicologia pela Universidade de Tübingen. Foi
diretor do Centro de Transferência de Tecnologia
de Steinbeis e atualmente dirige o Centro Europeu
para a Validação de Métodos Alternativos. Goldberg
é consultor da Xenogen Corporation em Alameda,
Califórnia; o teste alternativo de pirogênio de
Hartung foi licenciado por um grupo sem fins
lucrativos para os Laboratórios Charles River em
Massachusetts.
Para conhecer mais
Animals and alternatives in testing: history,
science, and ethics. Joanne Zurlo, Deborah
Rudacille e Alan M. Goldberg. Mary Ann Liebert,
1994.
Trends in animal research. Madhusree Mukerjee em
SCIENTIFIC AMERICAN, vol. 276, no 2, págs.
86-93, fevereiro de 1997.
To 3R
Is humane. Alan M. Goldberg e Paul A. Locke em
Environmental Forum, págs.
19-26, julho/agosto de 2004.
Folha de
São Paulo - 26.01.06 - www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2901200615.htm
NERVOS DE AÇO
Hospitais investem em tecnologia
com custo de até US$ 300 mil para
formação de profissionais de saúde
Médicos usam robô e ator para
reciclagem
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Pedrinho, seis meses, chega ao
hospital inconsciente, com
politraumatismo e suspeita de
hemorragia interna. Meia hora
antes, ele e a mãe foram lançados
para fora de uma van que se chocou
contra um ônibus na avenida
Brasil, no centro do Rio. A mãe
morreu na hora. O bebê, com
ruptura do rim, respira, mas treme
muito, o que leva os médicos a
suspeitarem de uma lesão cerebral.
O cenário seria trágico se não
fosse fictício. Apesar de chorar,
tossir, engasgar, respirar, ter
batimentos cardíacos e pulsação,
Pedrinho é um robô. Com tecnologia
norte-americana, o equipamento
custa US$ 80 mil e foi importado
por um centro de treinamento
médico carioca.
Chamados de "simuladores reais de
pacientes", robôs de última
geração e atores (esses sim, bem
reais) são as novas estratégias
usadas em cursos voltados a
estudantes de medicina, médicos e
outros profissionais de saúde, a
exemplo do que acontece em países
como os EUA e o Canadá.
As máquinas custam de US$ 80 mil a
US$ 300 mil e simulam diversas
funções do corpo humano, como
respiração, batimentos cardíacos,
inchaço e pulsação. Instrutores
ficam instalados em uma sala de
controle e manipulam as respostas
do robô. Por exemplo, os
batimentos cardíacos podem variar
de uma hora para outra ou a
garganta e a língua incham,
dependendo da situação clínica.
No centro de treinamento Berkeley,
onde está "internado" Pedrinho, há
nove salas de simulação totalmente
equipadas com robôs, respiradores
artificiais, desfibriladores,
entre outros equipamentos de
suporte à vida.
Segundo o engenheiro nuclear
Marcelo Bastos Glória, diretor do
centro, todas as simulações são
feitas a partir de casos reais
obtidos em hospitais da cidade.
Para estudar determinada situação
clínica no robô, os alunos são
subsidiados com um verdadeiro
dossiê, contendo exames
laboratoriais e de imagem do
paciente.
Quase 5.000 profissionais de
saúde, vindos de instituições
médicas de todo o país, já
treinaram no local. Além dos
robôs, o curso conta com a
participação de atores, que
representam papéis de pacientes,
de parentes das vítimas e de
profissionais de saúde.
"O treinamento com os simuladores
é muito importante porque evita
que o paciente seja colocado
precocemente na mão do médico.
Aqui, um erro pode levar o robô à
morte, mas ele ressuscita. Na vida
real isso não acontece." Em alguns
locais, os robôs vêm a substituir
antigos manequins estáticos ou até
mesmo animais. Em São Paulo, há
forte pressão para que as escolas
de medicina deixem de usar os cães
recolhidos pelo serviço de
zoonoses no ensino cirúrgico.
Depois de operados, esses animais
são sacrificados.
Médicos
Além dos estudantes, médicos já
formados também passam por cursos
de reciclagem que usam robôs. No
hospital Sírio Libanês, por
exemplo, as máquinas são
utilizadas no treinamento de
diversas situações, como a
colocação de tubos na traquéia
(traqueostomia) e de sondas na
bexiga, a aplicação de choques
elétricos no coração e aspiração
de sangue e ar do pulmão. O médico
Edson Ferreira Paiva, responsável
pelo treinamento do Sírio, conta o
caso de um médico, formado há mais
de 20 anos, que nunca havia
conseguido "ressuscitar" um
paciente com choque elétrico.
Depois do treinamento, relatou ao
instrutor ter salvo dois.
Para ele, as emergências
cardiovasculares, como o infarto e
o AVC (acidente vascular
cerebral), são situações que podem
ser perfeitamente reproduzidas
utilizando robôs. "Eles apresentam
palpitação no peito, arritmia. A
situação é tão real que os
estudantes ficam nervosos." No
Sírio, há cinco robôs. Um deles,
com ajuda de um compressor,
respira.
O Hospital Israelita Albert
Einstein lança em outubro um
centro de simulação realística de
US$ 2,5 milhões, montado em
parceria com uma instituição
israelense, referência em
simulação médica.
Além dos robôs, o Einstein vai
utilizar atores e pretende
investir no que chama de
"treinamento atitudinal", focado
em decisões e atitudes dos
profissionais da saúde que podem
ser cruciais para a vida do
paciente.
Segundo o médico Carlos Alberto
Moreira Filho, superintendente do
instituto de ensino e pesquisa do
Einstein, não adianta os robôs de
última geração se não houver
investimento no fator humano e na
mudança de atitudes.
"Os erros não deixam de acontecer
porque o robô fala. Muitos erros
em medicina acontecem por
problemas que não envolvem o
médico diretamente. O cirurgião
pode fazer o melhor trabalho do
mundo, mas se outro profissional
deixa o paciente cair da maca ou
não percebe que a máscara de
oxigênio não está bem colocada,
pode colocar tudo a perder", diz o
médico.
Folha de São Paulo - 29.01.06 -
www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2901200616.htm
Os robôs serão utilizados em
simulações de acidentes com
múltiplas vítimas em um centro de
telemedicina (atendimento à
distância) e educação continuada,
que será inaugurado amanhã em
Macaé (RJ) -o primeiro do gênero
na América do Sul. O centro
funcionará no Hospital Municipal
Doutor Fernando Pereira da Silva e
vai atender às demandas da
indústria do petróleo.
Por exemplo, se alguém estiver
trabalhando na plataforma e sentir
uma dor no peito, a equipe médica
de urgência vai entrar em contato,
por meio de um software e um
computador, com especialistas no
hospital. Uma teleconferência
entre um especialista e um não-
especialista será feita para
tratar a vítima e avaliar a
necessidade de transportá-lo até o
hospital. "A distância de uma
plataforma até um hospital é de
150 km a 200 km. E existem 30 mil
pessoas trabalhando nesses locais.
Por isso dá para imaginar a
importância desse serviço", diz
Marcelo Bastos Glória, diretor da
empresa que fará o treinamento dos
profissionais do centro.
O local também terá tendas para
descontaminação química e
biológica de vítimas. Os robôs
serão usados para simular
atendimentos reais. Com eles, os
médicos aprenderão a tratar
múltiplos ferimentos causados por
explosões, por exemplo.
Folha de
São Paulo - 29.01.06 -
www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2901200617.htm
Médicos que são professores em
escolas de medicina de São Paulo
afirmam que os robôs não são
capazes de substituir eficazmente
os humanos no ensino da prática
clínica ou cirúrgica. "O aluno
aprende tocando no doente sob
supervisão médica", afirma Antônio
Carlos Lopes, professor titular de
clínica médica da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo). Ele diz que 70% do
diagnóstico pode ser obtido com
conversa e exame físico.
Lopes acredita que uma preceptoria
adequada é muito mais eficaz do
que o robô. Para ele, o problema é
que há muitos professores-
supervisores ausentes ou inaptos
para a função. "Falta preceptor
nas enfermarias, nos ambulatórios.
Isso abre brecha para os robôs e
os atores, o que é um absurdo. Por
mais que o robô seja equipado com
habilidades humanas, ele jamais
vai responder como o paciente.
Nada substitui a mão do médico
tocando no paciente", diz Lopes,
que coordena a Comissão Nacional
de Residência Médica.
Na sua opinião, o uso de robôs
pode fazer algum sentido em países
onde os médicos evitam tocar nos
pacientes. "Não é o caso do
Brasil, onde há pacientes caindo
das macas. Medicina se aprende
tocando no doente, ao lado de quem
sabe, não com robô."
O cirurgião José Pinhata Otoch,
professor da Faculdade de Medicina
da USP, também questiona a
validade do ensino usando
pacientes-robôs e acredita que a
prática médica esteja mais ligada
a pressões da indústria do que a
uma real necessidade médica.
"Medicina não é só técnica. Não
adianta tecnologia de ponta se a
relação do médico com o paciente
for ruim. É preciso investir na
inclusão social do aluno. Eles
aprendem lidando com o paciente
sob supervisão médica. É o melhor
laboratório que existe."
Para ele, o uso de robôs em um
país como o Brasil, "onde o
sistema de saúde está falido", é,
no mínimo, questionável. "Nos
Estados Unidos, há robôs de até
US$ 1 milhão que são usados no
aprendizado médico, o que é
compreensível dentro da dinâmica
social deles. Mas, aqui, não vejo
sentido."
Folha de São Paulo - 29.01.06 -
www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2901200618.htm
Profissionais que já fizeram
cursos utilizando robôs avançados
afirmam que a simulação de
situações clínicas é mais "real"
do que o treino empregando
manequins estáticos.
"Ver o bebê-robô chorando,
respirando, dá uma emoçãozinha. A
gente tem mais cuidado em
manipular, tem medo de deixar
cair", comenta a fisioterapeuta
Darina Florêncio, que trabalha na
Beneficência Portuguesa do
município de Campos (Rio).
Nas últimas quinta e sexta-feira,
Darina fez parte de um grupo de
fisioterapeutas que participou de
um curso na área de UTI (Unidade
de Terapia Intensiva) neonatal no
centro de treinamento Berkeley, no
Rio de Janeiro.
Entre outras coisas, ela aprendeu
uma série de manobras a serem
feitas em um bebê que nasceu
prematuro e está sob ventilação
mecânica. "É emocionante ver que
uma determinada conduta estabiliza
o bebê", diz.
A fisioterapeuta Sirley Rodrigues,
39, de Petrópolis (RJ), trabalha
com recém-nascidos e resolveu
fazer o curso para se reciclar. "É
difícil encontrar espaço para
praticar, trocar experiências."
Paulo Oliveira, 30, veio do Porto
(Portugal) para o Rio com esse
mesmo objetivo. Fisioterapeuta em
um hospital português, ele veio
para um treinamento em UTI de
adultos, mas resolveu também fazer
o curso neonatal. "Quero reforçar
meus conhecimentos em reabilitação
cardiorrespiratória. Fazer isso em
um paciente real é quase
impossível."
Atores
Além dos robôs, o centro de
treinamento conta com a
participação de atores da escola
de teatro do Sesc (Serviço Social
do Comércio). Eles representam
papéis de pacientes, de familiares
e de membros da equipe médica.
Eles simulam, por exemplo, os
sintomas da doença ou da situação
clínica a ser trabalhada. No papel
de parentes, dramatizam o
desespero com uma notícia de morte
ou de doença grave.
Na USP, os próprios alunos de
medicina atuam como atores,
representando pacientes, segundo o
cirurgião José Pinhata Otoch.
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