Feliciano Filho com Lilly Bertolini
"São muitas dores impostas aos animais. Seus corpos são o objeto de abuso de uma humanidade que tem conhecimento demais e sensibilidade de menos. Ao menos durante esta semana, vamos pensar nisso – e, quem sabe, lançar as sementes da mudança." - FELICIANO FILHO
28 de Setembro a 4 de Outubro
SEMANA DE CONSCIENTIZAÇÃO DOS DIREITOS DOS ANIMAIS DO ESTADO DE SP
Em um momento de crise econômica e política, faz sentido dedicarmos uma semana inteira às discussões sobre bem-estar animal?
Com certeza sim, pois a forma como tratamos os animais é um retrato do nosso grau de civilidade. Não à toa sou autor de diversas leis em prol dos bichos. É minha, por exemplo, a Lei 15.431, sancionada em junho de 2014, que institui a Semana de Conscientização dos Direitos dos Animais do Estado de São Paulo. Esta deve culminar sempre em 4 de outubro. Em 2015, a Semana tem início em 28 de setembro.
A intenção da “Semana” é, a exemplo de outras celebrações do tipo – como a Semana do Meio Ambiente, comemorada em junho, ou o Dia da Mulher, em março –, estimular a reflexão da sociedade.
Os animais são seres sencientes. Isso significa que, apesar de não terem a nossa capacidade de formular raciocínios abstratos, ou de se exprimirem por meio de palavras, eles sentem amor, medo, angústia – enfim, têm emoções.
Sob essa perspectiva, impõe-se a necessidade de repensar o papel dos animais na sociedade. E, mais que isso, temos de refletir sobre a forma como os tratamos.
No Brasil, um porco, um boi e 185 frangos são abatidos por segundo. Isso nos frigoríficos que funcionam em conformidade com a lei. O número de matanças clandestinas não pode ser estimado. Recentemente, um caminhão repleto de porcos acidentou-se no Rodoanel e o horror desse tipo de transporte evidenciou-se aos olhos do mundo. Tratados como coisas, os seres que compõem a tal “carga viva” também sofrem com dor, sede, medo. Não será hora de pensarmos sobre isso?
E os animais ditos “de estimação”? Como vivem as matrizes dos cães de raça? As pessoas pagam caro em um filhote, muitas vezes parcelando a vida no cartão de crédito. Elas não têm noção de que as mães exploradas na produção de ninhadas adoecem e morrem cedo, vitimadas por tumores nas mamas e infecções uterinas. E os gatos expostos em eventos de padrão e beleza, por acaso estão felizes? Será mesmo que um ser de natureza livre e independente como o gato pode se sentir bem em uma situação artificial e forçada?
Em outro extremo, é dramática a situação dos animais de rua deste país. Faltam políticas efetivas de controle de natalidade, para evitar que tantos cães e gatos vagueiem pelas vias públicas, revirando lixo, sofrendo crueldades, ocasionando acidentes de trânsito.
E nossa fauna silvestre? Na periferia dos grandes centros, as chamadas “feiras do rolo” são verdadeiros mercados de vidas a céu aberto. Coleirinhas, sanhaços, macacos-pregos, papagaios e tantos outros bichos arrancados à força de seu habitat são precificados pelos feirantes, que algumas vezes os trocam por bugigangas velhas, telefones celulares, consoles de videogame. Além do tráfico, também o tráfego penaliza nossos habitantes da floresta: o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas, da Universidade Federal de Lavras (MG), estima que, a cada segundo, 15 animais da nossa fauna sejam atropelados nas autoestradas brasileiras, perfazendo 475 milhões de vidas ao ano! A maior parte dessas mortes é de pequenos vertebrados, tais como sapos e aves. Mas há perdas, também, de espécimes cada vez mais raros, como onças pardas e lobos-guarás.
Ainda podemos comentar sobre os bastidores da ciência, da indústria da moda, dos circos, dos rodeios e das vaquejadas, dos sacrifícios ritualísticos.
São muitas dores impostas aos animais. Seus corpos são o objeto de abuso de uma humanidade que tem conhecimento demais e sensibilidade de menos. Ao menos durante esta semana, vamos pensar nisso – e, quem sabe, lançar as sementes da mudança.
SEMANA DE CONSCIENTIZAÇÃO DOS DIREITOS DOS ANIMAIS DO ESTADO DE SP
Em um momento de crise econômica e política, faz sentido dedicarmos uma semana inteira às discussões sobre bem-estar animal?
Com certeza sim, pois a forma como tratamos os animais é um retrato do nosso grau de civilidade. Não à toa sou autor de diversas leis em prol dos bichos. É minha, por exemplo, a Lei 15.431, sancionada em junho de 2014, que institui a Semana de Conscientização dos Direitos dos Animais do Estado de São Paulo. Esta deve culminar sempre em 4 de outubro. Em 2015, a Semana tem início em 28 de setembro.
A intenção da “Semana” é, a exemplo de outras celebrações do tipo – como a Semana do Meio Ambiente, comemorada em junho, ou o Dia da Mulher, em março –, estimular a reflexão da sociedade.
Os animais são seres sencientes. Isso significa que, apesar de não terem a nossa capacidade de formular raciocínios abstratos, ou de se exprimirem por meio de palavras, eles sentem amor, medo, angústia – enfim, têm emoções.
Sob essa perspectiva, impõe-se a necessidade de repensar o papel dos animais na sociedade. E, mais que isso, temos de refletir sobre a forma como os tratamos.
No Brasil, um porco, um boi e 185 frangos são abatidos por segundo. Isso nos frigoríficos que funcionam em conformidade com a lei. O número de matanças clandestinas não pode ser estimado. Recentemente, um caminhão repleto de porcos acidentou-se no Rodoanel e o horror desse tipo de transporte evidenciou-se aos olhos do mundo. Tratados como coisas, os seres que compõem a tal “carga viva” também sofrem com dor, sede, medo. Não será hora de pensarmos sobre isso?
E os animais ditos “de estimação”? Como vivem as matrizes dos cães de raça? As pessoas pagam caro em um filhote, muitas vezes parcelando a vida no cartão de crédito. Elas não têm noção de que as mães exploradas na produção de ninhadas adoecem e morrem cedo, vitimadas por tumores nas mamas e infecções uterinas. E os gatos expostos em eventos de padrão e beleza, por acaso estão felizes? Será mesmo que um ser de natureza livre e independente como o gato pode se sentir bem em uma situação artificial e forçada?
Em outro extremo, é dramática a situação dos animais de rua deste país. Faltam políticas efetivas de controle de natalidade, para evitar que tantos cães e gatos vagueiem pelas vias públicas, revirando lixo, sofrendo crueldades, ocasionando acidentes de trânsito.
E nossa fauna silvestre? Na periferia dos grandes centros, as chamadas “feiras do rolo” são verdadeiros mercados de vidas a céu aberto. Coleirinhas, sanhaços, macacos-pregos, papagaios e tantos outros bichos arrancados à força de seu habitat são precificados pelos feirantes, que algumas vezes os trocam por bugigangas velhas, telefones celulares, consoles de videogame. Além do tráfico, também o tráfego penaliza nossos habitantes da floresta: o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas, da Universidade Federal de Lavras (MG), estima que, a cada segundo, 15 animais da nossa fauna sejam atropelados nas autoestradas brasileiras, perfazendo 475 milhões de vidas ao ano! A maior parte dessas mortes é de pequenos vertebrados, tais como sapos e aves. Mas há perdas, também, de espécimes cada vez mais raros, como onças pardas e lobos-guarás.
Ainda podemos comentar sobre os bastidores da ciência, da indústria da moda, dos circos, dos rodeios e das vaquejadas, dos sacrifícios ritualísticos.
São muitas dores impostas aos animais. Seus corpos são o objeto de abuso de uma humanidade que tem conhecimento demais e sensibilidade de menos. Ao menos durante esta semana, vamos pensar nisso – e, quem sabe, lançar as sementes da mudança.
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